terça-feira, 25 de maio de 2010

Por que as empresas quebram

O artigo pode ser acessado na íntegra por meio do endereço: http://veja.abril.com.br/310399/p_118.html
Por que as empresas quebram
Evite os erros de quem não conseguiu levar a firma adiante – e aprenda com os poucos que acertaram.
Por Marcos Gusmão.
"Só sobrevivi à falência porque mudei duas vezes os
produtos de minha confecção." Maria Cristina de Almeida, de São Paulo.
Saiu um estudo que aponta as causas do grande número de falências entre as pequenas empresas brasileiras e pode ajudar a diminuir a taxa de mortalidade alarmante. Conforme as estatísticas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae, apenas 3% dos pequenos negócios, a maioria deles montada por pessoas que sonharam em trocar a vida de empregado pela de patrão, ultrapassam a marca dos cinco anos. Desanimador? Não. "Uma das formas de buscar o sucesso nos negócios é procurar aprender com as experiências malsucedidas", diz Aparecida Soares Braga, coordenadora do Núcleo para Abertura de Empresas, uma entidade criada pelo Sebrae de Minas Gerais e pela prefeitura de Belo Horizonte. O objetivo do estudo é apontar as causas de tantos fracassos e delas procurar tirar lições capazes de salvar os empreendimentos. De acordo com outra pesquisa do Sebrae, apenas 14% dos empresários atribuem seu fracasso à recessão. Os outros admitiram que cometeram falhas ou não prestaram a devida atenção ao impacto de problemas como os juros altos e a dificuldade de acesso ao crédito em seus negócios (veja fichário).
.Capital de giro – "Sempre cuidei do jardim de minha casa e imaginei que conhecer plantas e
gostar delas bastava para eu ter uma floricultura", diz a contadora Rute Joaquina Viana Boecker, de Belo Horizonte. Dona de um imóvel comercial, Rute tinha recursos suficientes para comprar o
estoque inicial. Supôs que o dinheiro que entraria fosse o bastante para manter a empresa aberta e bancar as encomendas seguintes. Além de não se preocupar com o capital de giro, não levou em
conta que seu ponto era inadequado. "Os vendedores ambulantes e os supermercados da redondeza poderiam cobrar preços mais em conta do que os meus." Quebrou em sete meses.
.Negócio da moda – Reunir todas as informações possíveis sobre o ramo em que se pretende atuar é um cuidado que muita gente não toma antes de arriscar suas economias num negócio. Em 1996, o economista Hilton Oliveira Rodrigues, do Recife, abriu uma locadora de vídeo em sociedade com a mulher. Menos de dois anos depois, estava fechando as portas. "Ainda tentei salvar a empresa alugando CDs e cartuchos de videogame, mas a essa altura já não tinha mais dinheiro para investir na loja", diz. O principal erro de Rodrigues foi escolher um ramo de atividade que estava na moda e supor que isso seria suficiente para conquistar clientes para sua empresa. Não é bem assim. Os negócios da moda são enganadores e especialmente perigosos. Costumam atrair muita gente de uma vez só, o que deixa o mercado saturado. De acordo com um levantamento recente, metade das prestadoras de serviços de informática abertas quebra antes de completar um ano.
"Tinha uma franquia de pizzaria e ganhava dinheiro. O negócio estava tão bem que abri uma doceria. A nova loja quebrou e perdi 200 000 reais." Paulo Donato, do Rio de Janeiro.
.Franquias – Um grande número de pessoas acredita que montar uma franquia é garantia de
sucesso para quem quer investir num negócio próprio. Segundo os consultores, esse tipo de projeto tem um índice de sucesso ligeiramente maior do que os empreendimentos montados por conta e risco do empresário. Elas ficam abertas por mais tempo, mas isso não significa que dêem vida boa ao investidor. "A maioria das franquias tem faturamento suficiente apenas para manter as portas abertas", diz Paulo César Mauro, dono de uma empresa de consultoria paulista especializada no assunto. O advogado Paulo Donato, do Rio de Janeiro, perdeu 200000 reais com uma franquia malsucedida. Dono de uma rede de pizzarias, ele resolveu há pouco mais de um ano abrir no Rio uma loja da doceria Amor aos Pedaços. Faliu depois de dezoito meses. "O franqueador tinha regras muito rígidas", diz. Quem quer abrir uma franquia deve, além de tomar as mesmas precauções dos que pretendem atuar por conta própria, reunir o maior volume de informações possível sobre o relacionamento da marca com seus franqueados.
"Gostar de jardinagem não foi suficiente para evitar que a floricultura fosse à falência." Rute Viana Boecker, de Belo Horizonte.
.Flexibilidade – De qualquer forma, abrir um pequeno negócio é sempre uma prova de
persistência. Em 1991, a arquiteta Maria Cristina de Almeida, de São Paulo, montou uma confecção em sociedade com a irmã. A empresa começou produzindo artigos de couro. Não deu certo. Passou, então, a fabricar roupas e bolsas infantis. "No começo, fazíamos tudo sozinhas, do desenho ao acabamento das roupas", diz Maria Cristina. "Quando precisamos crescer, não encontramos mão de-obra qualificada." Tiveram de mudar de novo. Hoje produzem roupas para animais de estimação e agora acreditam ter achado o caminho correto. "Estamos nos preparando para exportar uma parte da produção para os Estados Unidos." O mundo das pequenas empresas oferece chances de sucesso.
Mas para chegar lá é preciso estar atento ao mercado, conhecer a fundo a experiência de quem errou e saber mudar sempre que for preciso.
Não se iluda com o sucesso dos outros
As pesquisas em torno das microempresas costumam se concentrar fortemente sobre o fracasso de quem tentou montar o negócio próprio. Ou seja, as estatísticas discutem as razões da quebra e os indicadores de falência, e isso pode conduzir a uma pergunta: se há três casos bem-sucedidos de empresas em cada grupo de 100 firmas abertas, por que não analisar onde esse grupo seletíssimo acertou a mão? Por que gastar toda a energia discutindo os erros das outras 97?
É uma dúvida razoável, mas, no mundo dos negócios, os especialistas dizem que as coisas
funcionam assim mesmo. Conhecer os erros que os outros cometeram é mais importante do que
conhecer os acertos. Nesse universo, não vale muita coisa detectar pontos de contato entre o seu
estilo de trabalho e o do megaempresário Antônio Ermírio. Muito mais útil é saber o que fez de
errado aquele seu vizinho que recebeu a indenização da firma em que trabalhava, abriu uma
franquia e fechou depois de seis meses. Mais claro: o sucesso dos grandes tem razões difusas e é algo que vem sendo construído todo dia. É preciso ter várias virtudes para fazer e acontecer. Já o fracasso tem culpados objetivos: falta de crédito, impostos elevados, capital de giro diminuto etc. Basta uma dessas falhas e as coisas desabam. Daí porque os erros são mais importantes. São eles o seu maior inimigo. Conhecê-los com profundidade é a única forma de derrotá-los.
Copyright © 1999, Abril S.A

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